Há um novo elemento no cardápio da vida diária: os medicamentos.
Sentimentos como: tristeza, alegria e medo, passaram a ter uma medida em nossa sociedade, que quando ultrapassadas, são consideradas sentimentos legítimos em diagnósticos patológicos e, não raras vezes, as pessoas são medicadas com drogas lícitas, como, anfetaminas, estimulantes, dentre outras denominadas “tarja preta”, pelos sérios efeitos colaterais que causam, sendo um deles a dependência. Por exemplo, nessa métrica, chega-se ao cúmulo de estabelecer que é possível chorar a morte de uma pessoa querida por 15 dias, mais do que isso, seria indicativo de um quadro depressivo, passível de medicação.
Portanto, enquanto na sociedade brasileira são feitos enormes alardes em relação às drogas ilícitas e campanhas envolvendo grandes somas de dinheiro público são realizadas para o controle e tratamento de algumas delas, como o crack, há outra questão de enorme importância que é o avanço na utilização das drogas lícitas. No Brasil, por exemplo, o metilfenidato, substância dada para crianças e adolescentes com a pretensão de diminuir o chamado “déficit de atenção” na escola, subiu de 70.000 caixas vendidas em 2000 para dois milhões de caixas em 2010, inserindo o Brasil no segundo maior consumidor dessa droga no mundo, perdendo somente para os Estados Unidos.
A venda crescente de medicamentos tem gerado, inclusive, distorções no meio médico, pois muitos desses profissionais vêm recebendo “brindes” dos laboratórios pela quantidade de remédios de determinada marca que receitam a seus pacientes. A pressão dos laboratórios é tão evidente que, em 2010, o Conselho Federal de Medicina proibiu os médicos de receberem “vantagens materiais” por receitarem determinados medicamentos e voltou atrás em 2012, permitindo que fosse possível oferecer, em troca, uma viagem para Congresso por ano, financiada por determinado laboratório, justificando que é uma “tendência mundial”.
Em função dessas preocupações, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) lançou uma Campanha Nacional “Não à medicalização da Vida”. Com isso, é chamada a atenção para as questões da Medicalização, processo que transforma questões de ordem social, política, cultural em “distúrbios” e “transtornos”, atribuindo ao indivíduo uma série de dificuldades que o inserem no campo das patologias, dos rótulos, das classificações psiquiátricas.
Fonte: Conselho Federal de Psicologia - CFP
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